sexta-feira, 6 de março de 2009

Medicando o Espírito

As linhas que vêm a seguir, não têm o objetivo de fazer um ataque ao trabalho dos psiquiatras que são os profissionais unicamente e tecnicamente capacitados para trabalhar e receitar medicações chamadas de psicofármacos. Muito antes disso, denunciar as práticas abusivas de generalistas que de posse do receituário “azul” praticam de forma indiscriminada e abusiva o uso de medicações controladas para um suposto beneficio de seus pacientes, na melhor das hipóteses. A pior seria para uso próprio. Aquilo que chamamos de MEDICALIZAÇÃO (ver em outro texto meu www.fabioulrich.com)

MEDICANDO O ESPÍRITO.

Foi a partir de 1950 que os psicotrópicos transfiguraram a paisagem da “loucura”. Como já citamos em momentos anteriores, esvaziaram os manicômios, aposentaram a camisa de força e os tratamentos de choque (embora caiba lembrar que esta prática ainda é utilizada no Rio Grande do Sul), o chamado ECT, Eletro choque terapia. Embora não curem nenhuma doença mental, fabricaram um outro tipo de sujeito. Sujeito este muitas vezes polido, sem humor, sem paixões, um “normopata”, quando não um dependente químico das chamadas drogas lícitas.

Deste eixo bifurcamos vários e desastrosos caminhos: Como afirma Roudinesco (2002) “(...) receitados tanto por clínicos gerais quanto por especialistas em psicopatologia, os psicotrópicos tem o efeito de normalizar comportamentos e eliminar os sintomas mais dolorosos do sofrimento psíquico, sem lhes buscar a significação (...)”

Os Psicotrópicos são Classificados em três grupos:

- Os Psicolépticos;

- Os Psicoanalépticos e os Psicodislépticos;

No primeiro grupos estão os medicamentos hipnóticos, que tratam de distúrbios do sono, assim como os ansiolíticos e os tranqüilizantes, que eliminam sinais de angústia, ansiedade, algumas fobias (momentaneamente). Ainda temos os neurolépticos (ou antipsicóticos), medicamentos estes específicos para a psicose e todas suas formas de delírios crônicos ou agudos. No segundo grupo “reúnem-se” os antidepressivos , os estimulantes, e no terceiro os medicamentos alucinógenos e os reguladores de humor.

No entanto , à força de acreditar no poder de suas poções, a psicofarmacologia acabou por perder seu prestígio, ou parte dele. Ela encerrou os sujeitos em outra alienação tentando curá-los de suas própria essência humana, de sua condição humana.Sendo assim através de suas ilusões engendrou um novo irracionalismo. Inaugura-se então um novo paradoxo: aquilo que era o remédio agora é o veneno, como diria Renato Russo em uma de suas canções: “Minha papoula da índia, minha flor da Tailândia, és o que tenho de suave, e me fazes tão mal”

Não é surpresa alguma hoje que os excessos da psicofarmacologia estão sendo denunciados justamente por aqueles que o haviam enaltecido. Hoje suas proposições reivindicam que os chamados remédios da mente sejam usados de maneira mais racional e responsável e coordenação com outras formas de tratamento: a psicanálise a psicoterapia. Jonh Delay principal representante francês da psiquiatria biológica afirmou em 1956 “Convém lembrar que, em psiquiatria, os medicamentos nunca são mais que um momento do tratamento de uma doença mental e que o tratamento básico continua sendo a psicoterapia”

Estudos do FDA apontam que em 2007, oitenta por cento dos suicidas americanos usavam somente antidepressivos. Está dito. Mais dados estatísticos também de 2007 mai dados são apresentados pela Universidade Federal de Brasília e cooperação com o Ministério da saúde: suas pesquisas apontam que 60% dos dependentes de ansiolíticos são profissionais da área da saúde, principalmente médicos e enfermeiros com trabalhos concentrados em hospitais.

Com isso ressaltamos que o medicamento em si não se opõe ao tratamento pela fala. A psicanálise, afirma Roudinesco (2000) afirma que por toda parte a psicanálise reina soberana, mas também em toda parte, por equívocos é colocada em concorrência com a psicofarmacologia. A França e o Brasil são hoje os países que mais consomem antidepressivos. Se a psicanálise hoje é posta em concorrência com a psicofarmacologia, é também porque os próprios pacientes, submetidos à barbárie da biopolítica, passaram a exigir que seus sintomas tenham uma causalidade orgânica. Em conseqüência disso, entre os psicotrópicos os antidepressivos são os mais receitados sem que possamos afirmara que os estados depressivos tenham aumentado. O problema é somente hoje a medicina alimenta e responde ao paradigma da depressão. Como se qualquer alteração de humor, por paciente relatada ao ginecologista fosse uma depressão. Qualquer estado de tristeza, não é necessáriamente depressão. Lembramos o ser humano só é feliz se souber ficar triste. Esta é sua condição. Se o limiar de tolerância diminuiu ou baixou e seu desejo de liberdade se extinguiu o mesmo parece que acontece com os médicos que receitam ansiolíticos e antidepressivos indiscriminadamente. Pesquisas do Jornal Le Monde “le médicines em état d’urgence. Boire toute l’angoise dês patiets” mostraM que inúmeros clínicos franceses, sobretudo os que cuidam de emergência, não estão em melhores condições que seus pacientes. Imaginem uma pesquisa como esta no Brasil.