quinta-feira, 1 de outubro de 2009


Um Ensaio Sobre O Suicídio.

O que os expectadores que assistem e chamam de loucura vai o aviso: pelo suicida é entendido como Solução.

21 de setembro. O dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Iniciado em 2003, por iniciativa da Associação Internacional de Prevenção do Suicídio (IASP) e apoiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) esta comemoração visa anualmente melhorar o esclarecimento acerca do suicídio através da disseminação de informação, diminuição do estigma e, sobretudo, difundir a idéia de que o suicídio é prevenível.
O tema de 2009 é a prevenção do suicídio em diferentes culturas.

Um assunto tão Polêmico. Tão Velado. Seria ele inerente a condição humana? Seria Normal? O que sabemos sobre o Suicídio? Sobre o Parasuícidio? Sobre o Homicídio-Suicídio? Seria os pensamentos suicidas algo tão distante de nós? Por que nos assustamos ou evitamos falar neste tema? Porque a morte de si por si próprio acontece?
Perguntas que não sabemos responder tão facilmente sobre um ato que abrevia a vida.
Por que os suicídios acontecem em sua maioria aos domingos? Quais os mitos sobre o suicídio?
“Segundo Marcimedes M. da Silva (Mestre em Psicologia Social) seria difícil precisar quando o primeiro suicídio ocorreu. Segundo o autor ele parece estar sempre presente na história da humanidade. A Enciclopédia Delta de História Geral registra que, em um ritual no ano 2.500 a.C., na cidade de Ur, doze pessoas beberam uma bebida envenenada e se deitaram para esperar a morte. Recorrendo a livros religiosos como a Bíblia, por exemplo, é possível também encontrar os registros de alguns suicidados famosos - Sansão, Abimelec, Rei Saul, Eleazar e Judas.O suicídio de pessoas famosas foi sendo registrado, porém a história oficial ignorou os inúmeros cidadãos comuns suicidados. No entanto, historicamente, é possível constatar a maneira como a sociedade tratou os suicidados e como este tratamento foi se alternando, cabendo observar, com especial atenção, o suicídio enquanto questão política tratada de diferentes maneiras pelo Estado”.
“Na Antiga Grécia, um indivíduo não podia se matar sem prévio consenso da comunidade porque o suicídio constituía um atentado contra a estrutura comunitária. O suicídio era condenado politicamente ou juridicamente. Eram recusadas as honras de sepultura regular ao suicidado clandestino e a mão do cadáver era amputada e enterrada a parte. Por sua vez, o Estado tinha poder para vetar ou autorizar um suicídio bem como induzi-lo. Por exemplo, em 399 a.C., Sócrates foi obrigado a se envenenar.”:


O estudo de Durkheim(1987), analisando os suicídios ocorridos no século passado, tornou-se obra clássica da sociologia por chamar a atenção sobre a significação social do suicídio pessoal - o suicídio é uma denúncia individual de uma crise coletiva. Já o estudo de Kalina e Kovadloff merece destaque porque parte da premissa de que em cada sujeito que se mata fracassa uma proposta comunitária. Eles analisam a sociedade atual com clara intenção de entender o suicídio como existência tóxica. A existência tóxica é a vida vivida de forma que o ser humano esteja se matando no cotidiano, todos se matando em comum acordo através de uma maneira de viver perigosa para a saúde. Uma existência tóxica é uma vida envenenada porque vive daquilo que a aniquila, promove e perpetua a alienação humana e fomenta o apoio às contradições que a destrõem. Para tanto, multiplicam-se as condutas autodestrutivas como o armamento nuclear, a contaminação do planeta e, até mesmo, a despersonificação urbana do homem contemporâneo. Enquanto na concepção clássica o suicídio é o ponto final de um processo, Kalina e Kovadloff(1983) afirmam que o suicídio é o processo em si mesmo.Partindo do pressuposto que o suicídio é um processo em si mesmo que não termina com a morte e, ainda, que o suicídio é um gesto de comunicação entende-se que o indivíduo se mata para relacionar-se com os outros e não para ficar só ou desaparecer. A morte é o único meio que o sujeito encontra para restabelecer o elo de comunicação com os outros. Continua o Autor : Fernando Sabino(1986), na crônica intitulada "Suíte Ovalliana", conta que Jayme Ovalle, questionado a respeito do suicídio, disse: "É um ato de publicidade: a publicidade do desespero."(p. 144) Desde dezembro de 1990, a publicidade do desespero dos índios guaranis de 16 a 22 anos, em Mato Grosso do Sul, ocupa as páginas dos jornais brasileiros, obrigando as autoridades governamentais a se interessarem por esta crescente onda de suicídios por enforcamento e por ingestão de veneno. A questão a ser discutida é: não é o suicídio um gesto de comunicação, a transmissão de uma mensagem individual para a sociedade? A resposta violenta do suicidado é sua busca em comunicar-se, transformando-se, porque a sociedade não lhe permitiu antes que o fizesse. Quando lhe foi impossibilitado comunicar-se, cortaram-lhe também sua influência sobre a sociedade, a qual se restabelece através de seu gesto suicida, mesmo que não seja uma pessoa famosa.
Note-se que o termo "suicida" não clarifica qual é a condição do indivíduo. Por isto, é preciso fazer uma distinção entre os termos "suicidando" - aquele que ameaça e/ou tenta suicídio e que pode ser chamado de ameaçador ou tentador; e "suicidado" - aquele que efetivamente se matou.

“ O suicidado pratica um ato de comunicação e não um gesto solitário e que, além de tudo, é uma comunicação para uma sociedade que o impede de comunicar-se de outras formas que não seja através deste gesto.”


Contrariando os mitos:
1. A cada 10 pessoas que cometem suicídio, oito avisaram família/amigos/parentes.
2. A maioria dos suicidas está indecisa sobre viver ou morrer e, frequentemente, "brincam com a morte". Confiando que outras pessoas vão salva-lo. Raríssimas vezes pessoas cometem suicídio sem avisar amigos e parentes.
3. A vontade de se matar passa. O indivíduo, com tratamento adequado, pode voltara ter uma vida normal
4. A maioria dos suicídios ocorre quando o indivíduo começa a melhorar. Menos deprimido e com mais energia, o suicida consegue dar vazão aos seus pensamentos e sentimentos mais mórbidos.
5. A morte por suicídio geralmente acontece depois de 5 ou 6 tentativas mal sucedidas.

Fato importante esclarecer: ter pensamentos suicidas não implica ser-se “louco”, nem necessariamente ser doente mental. As pessoas que tentam o suicídio estão seriamente afligidas e deprimidas. Esta depressão pode ser reativa, situação que é perfeitamente normal em circunstâncias difíceis, ou pode ser uma depressão endógena que é o resultado de um estado emocional diagnosticável com outras causas subjacentes. Também pode ser uma combinação das duas.
A questão da doença mental é difícil porque ambos os tipos de depressão podem ter sintomas e efeitos semelhantes. Além do mais, a definição exata de depressão como doença mental diagnosticável (ex. depressão clínica) tende a ter diferentes matizes, assim o fato da pessoa que se sente afligida o suficiente para tentar o suicídio ser diagnosticada como sofrendo de depressão clínica pode variar de pessoa para pessoa e entre culturas.
É provavelmente mais útil distinguir entre estes dois tipos de depressão e tratá-los adequadamente do que tentar diagnosticar a depressão como forma de doença mental, mesmo que os sintomas apresentados pela depressão reativa correspondam aos critérios da depressão clínica. Por exemplo, Appleby e Condonis escreveram:
"Pensamentos e atos suicidas podem ser o resultado de tensões e perdas com as quais não se consegue lidar.”

Numa sociedade onde o estigma e ignorância acerca da doença mental é significativo, a pessoa que experimenta comportamentos suicidários pode temer que os outros a considerem "louca" se revelarem os seus sentimentos, tornando-se relutantes em pedir ajuda durante a crise que atravessam. De qualquer forma, descrever alguém como "louco", com fortes conotações negativas, não é, provavelmente, útil e o mais provável é dissuadir alguém de procurar ajuda o que se pode revelar bastante benéfico, independentemente de ser diagnosticada doença mental ou não.

As pessoas que sofrem de uma doença mental tal como a esquizofrenia ou depressão clínica têm índices significativamente mais altos de suicídio, embora sejam ainda uma minoria dos que tentam tal ato. Para estas pessoas, ter a sua doença corretamente diagnosticada, com um tratamento apropriado, pode ser uma forma de impedir o ato de suicídio. "

Um pouco sobre estatísticas
Taxas de suicídio por 100.000 habitantes - Europa + outros países, ano mais recente disponível, ordenação decrescente
País Global Masculino Feminino
Lituânia 42.1 74.3 13.9
Rússia 38.7 69.3 11.9
Bielorússia 35.1 63.3 10.3
Eslovénia 28.1 45.0 12.0
Hungria 27.7 44.9 12.0
Estónia 27.3 47.7 9.8
Ucrânia 26.1 46.7 8.4
Letónia 26.0 45.0 9.7
Japão 23.8 35.2 12.8
Bélgica 21.1 31.2 11.4
Finlândia 20.6 31.9 9.8
Croácia 19.5 31.4 8.4
Suíça 18.4 26.5 10.6
Áustria 17.9 27.1 9.3
França 17.6 26.6 9.1
Moldávia 17.2 30.6 4.8
República Checa 16.9 27.5 6.8
Polónia 15.5 26.6 5.0
Roménia 14.1 23.9 4.7
Bulgária 14.0 21.0 7.3
Dinamarca 13.6 20.2 7.2
Alemanha 13.5 20.4 7.0
Suécia 13.4 18.9 8.1
Eslováquia 13.3 23.6 3.6
Irlanda 12.7 21.4 4.1
Austrália 12.7 20.1 5.3
Islândia 12.6 19.6 5.6
Nova Zelândia 11.9 19.8 4.2
Canadá 11.9 18.7 5.2
Luxemburgo 10.9 18.5 3.5
Noruega 10.9 16.1 5.8
Índia 10.7 12.2 9.1
EUA 10.7 17.6 4.1
Holanda 9.2 12.7 5.9
Itália 7.1 11.1 3.3
Reino Unido 6.9 10.8 3.1
Israel 6.3 9.9 2.7
Brasil 4.1 6.6 1.8
Albânia 4.0 4.7 3.3
Grécia 2.9 4.7 1.2
Geórgia 2.2 3.4 1.1
Arménia 1.8 3.2 0.5
Azerbeijão 1.1 1.8 0.5




Fonte: "Hearing the cry: Suicide Prevention", Appleby e Condonis, 1990. (ISBN 0-646-02395-0)

Como lidar com “um possível Suicídio”? Orienta-se que não se deve tentar resolver a situação sozinho; que se fale direto, abertamente sobre o suicídio; Importante que se esteja disposto ouvir a permitir a expressão de sentimentos com paciência.Um outro fato muito importante é não julgar se o suicídio é certo ou errado ou se os sentimentos da pessoa são bons ou ruins; evite sermão sobre os valores da vida, a importância da família, etc; Alguns Especialistas recomendam outras posturas:

Esteja disponível, demonstre interesse e compreensão.Não duvide que ele/ela se suicide; Não aja como se estivesse chocado;Tome uma atitude, remova da casa remédios, álcool, drogas, cordas, fios, facas e armas; Busque ajuda: Seja enfático ao encorajar a pessoa a buscar um profissional da área de saúde mental.Cabe Lembrar segundo estudo do FDA 80% dos americanos que se suicidaram em 2008 usavam somente antidepressivos.