segunda-feira, 27 de abril de 2009

A ALMA SERIA UMA COISA?




Nesta situação, neste contexto histórico social, não surpreende que a psicanálise seja paulatinamente violentada pelo discurso tecnicista alegando sua ineficácia. Ineficácia?
Fraçoise Giroud declarou “A análise é árdua e faz sofrer. Mas quando a imagem que se tem de sim mesmo se está desmoronando sob o peso das palavras recalcadas, das condutas obrigatórias, das aparências a serem salvas, quando a imagem que se tem de si mesmo torna-se insuportável, o remédio é esse, guardo por Lacan uma gratidão infinita(..) não mais sentir vergonha de si mesmo é a realização de liberdade.Isso é o que uma psicanálise bem sucedida ou bem conduzida ensina aos que lhe pedem socorro”.
Mas, por que a psicanálise suscitaria tanto opróbrio?
A Psicanálise parece ser ainda mais atacada hoje em dia por haver conquistado o mundo através da singularidade de uma experiência subjetiva que coloca o inconsciente, a morte e a sexualidade no cerne da alma humana.
Acredito que a significação deste equivocado descrédito deva ser buscada na recente transformação dos modelos de pensamentos desenvolvidos pela psiquiatria dinâmica, nos quais repousa, há dois séculos, a apreensão do status da loucura e das doenças psíquicas nas sociedades ocidentais.
Esclarecendo, chama-se psiquiatria dinâmica os conjunto das correntes e escolas que associam uma descrição de doenças da alma (loucura) dos nervos (neurose) e do humor (melancolia) a uma tratamento psíquico de natureza dinâmica, melhor dizendo, que faça intervir uma relação transferencial entre o médico e o doente. Oriunda da medicina,a psiquiatria dinâmica privilegia a psicogênese (causalidade psíquica) em relação a organogênese (causalidade orgânica), mas no entanto sem excluir esta última, apoiando-se em quatro grande modelos de explicação da psique humana: um modelo nosográfico nascido da psiquiatria, que permite ao mesmo tempo uma classificação universal das doenças e uma classificação universal das doenças e uma definição da clínica em termos de norma e patologia um modelo terapêutico herdado dos antigos curandeiros que presume a eficácia terapêutica a um poder de sugestão.
No entanto, diante do impulso da psicofarmacologia, a psiquiatria abandonou o modelo nosográfico em prol de uma classificação de comportamentos. Reduziu a psicoterapia a uma técnica de supressão de sintomas. Percebemos então a valorização empírica e ateórica dos tratamentos de emergência. O medicamento sempre atende, seja qual for a duração da receita, a uma situação de crise, a um estado sintomático. Quer se trate de angústia, agitação, melancolia ou uma simples ansiedade. É preciso, inicialmente tratar o traço invisível de sua doença para depois suprimi-la. As modalidades medicamentosas utilizadas como única terapêutica e pelo discurso fálico das “receitas” orientam o paciente para uma posição ainda mais conflituosa e consequentemente depressiva. Em lugar das paixões, a normopatia; em lugar do desejo, ausência; em lugar do sujeito, o nada, em lugar da história, o fim da história. “ O moderno profissional de saúde – psicólogo, enfermeiro psiquiatra ou médico já não tem tempo para se ocupar da longa duração do psiquismo, por que na sociedade liberal depressiva seu tempo é contado”

O MAL ESTAR NA CONTEMPORANEIDADE



Um Breve comentário.


“Deus está morto. Marx está Morto. E eu, para falar a verdade, não me sinto muito bem"
(Woddy Allen)




Falemos um pouco então, daquilo que talvez, seja o mote central do contemporâneo: O Mal Estar.

O Mal Estar e o Mundo Contemporâneo.

Há um lugar para conceber que as pedras falam e que há a possibilidade de se entender o idioma inconversável delas . Mas para tanto há de ter poesis, há de ter criação. Freud quando apresenta as descobertas possibilitadas pelo emprego do método psicanalítico na observação e escuta dos sintomas histéricos, afirmou: "As Pedras Falam" . O produto da atividade neurótica, símbolos mnêmicos das atividades infantis recalcadas, são potencializados pôr uma linguagem que então, traduzida e decifrada, informa sobre experiências e acontecimentos do passado que testemunham sobre a origem da doença. A experiência psicanalítica que se funda no método da interpretação, que elucida os sentidos mais ocultos dos sintomas, configura-se como a "cura pela fala" que nos remete a pensar que tudo o que pensamos. Falamos e ao falar utilizamos uma linguagem que é composta de palavras, pois a “escrita é sempre a escrita de uma fala” [SAFOUAN]; o inconsciente se estrutura como uma linguagem solicitando como uma condição operacional, a inscrição de eventos no inconsciente, melhor dizendo, no registro das representações.

“Aonde não há poesis, pedras passam por pedras mesmo. O terreno, por conseguinte não é propicio à descoberta de objetos marcados por inscrições codificadas" (Lowenkron )

Dentro desta perspectiva, o terreno não seria propicio à descoberta de objetos marcados por inscrições e passíveis de tradução. Na verdade, a psicanálise, desde sempre facultou esta possibilidade, testemunhada na formação das "neuroses atuais". Falemos, então, de estados neuróticos desprovidos de atividade criadora, impossibilitados de realizar a passagem da intensidade pulsional para o registro da interpretação. Esclarecendo, das dificuldades encontradas pelo sujeito para a simbolização, melhor dizendo, para efetuar o processo de simbolização, surgem os sintomas que, supostamente, não são portadores de sentido. Seriam sintomas que não falam, mas explicitam perturbações de economia sexual somática. Tal economia exerceria um conhecimento não pensado, não inscrito no registro da representação. Neste processo, ocorrem manifestações que são sentidas, percebidas como um Mal-Estar que não encontra definição que, muitas vezes não se localiza. Um Mal Estar Indizível. Essas categorias clínicas demarcam fortes limites ã clínica psicanalítica, tal como se apresenta e se pensa fundamentalmente na clínica baseada do recalque.

As questões seriam: sobre quais diferenças estamos falando, quando e por que elas acontecem? Bion diz que talvez encontremos mais "Hamlets" do que "Édipos". Roudinesco afirma que "Os pacientes dos anos 90 são muito diferentes daqueles dos primeiros tempos" e continua a autora, que cada um de nós não cessa de confirmar na própria experiência.


Penso que as questões colocadas até agora, não são nenhuma novidade para quem nos ouve, neste momento, muito antes pelo contrário, também refletem e sentem o mal estar com o qual se deparam quotidianamente. Com tais questões e, concordam os psicanalistas, sejam quais forem suas premissas ou tradições de pensamento psicanalítico que, existem mudanças importantes na economia psíquica do homem contemporâneo.

Falando de sofrimento psíquico na atualidade, destacam-se os chamados transtornos depressivos, que se caracterizam por sentimento de um vazio interior, redução de auto-estima, falta de identidade, empobrecimento da experiência subjetiva e criativa, somatizações graves, as toxicomanias e os modos perversos de existência.


“As pessoas que vêm consultar-nos, começam geralmente por relatar uma depressão, maior ou menor, uma dificuldade de viver, uma incapacidade para fazer as coisas mais simples. Nas entrevistas, por vezes reconhecemos o que classicamente conota a depressão: abatimento, inibição do pensamento, sentimento de vazio, cansaço, apatia, impossibilidade de amar, impotência ou frigidez, sentimento de inferioridade, de inadaptação ou ausência de valor" CHEMAMA,R

Não se pretende, aqui, uma revisão teórica, mas sim, evidenciar uma coalizão de pensamentos psicanalíticos acerca do sofrimento psíquico que se apresenta no mundo contemporâneo, os desafios da clínica psicanalítica que, por sua vez tem seu setting redimensionado por sofrimentos e sujeitos que se manifestam sob a forma de sintomas narcísicos, depressivos, com dificuldade de articular narrativas, suas próprias histórias, suas experiências, amores e dores.
Além da marca deste discurso há uma solicitação imediata da remissão deste quadro, o alívio rápido, e a dificuldade de aceitar um trabalho sistemático e regular que a psicanálise solicita.

ROUDINESCO afirma que a depressão deveria ser pensada muito mais como um avatar do que propriamente como uma entidade autônoma. ROUDINESCO enfatiza que a histeria, evidentemente não desapareceu, no entanto ela está sendo cada vez mais tratada e vivida como uma depressão. O modo depressivo então, de sofrimento guarda conformidade com o que se chama de sociedade depressiva, na qual então, se instaura, e o paradigma da histeria é "substituído pelo da depressão" .

No entanto a categoria denominada como depressão (cabendo distingui-la da melancolia) atualmente ampara-se fortemente no discurso psiquiátrico e seus ideais fálicos, já evidenciados por MICHEL FOUCAULT em sua obra “A Micro-Física do Poder" que, por sua vez trabalha com um método empírico experimental, produzindo, conseqüentemente um campo fecundo de pesquisa para psicofarmacologia, para neurociências e outras disciplinas que operam num contexto de pensamento notoriamente não-neutro, tratando os transtornos depressivos como anomalias, mal funcionamento cerebral, cujo o comportamento possa vir a ser corrigido por meio de medicamentos, tornando dispensável a busca de sentido para os sintomas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Tendência Antissocial


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A TENDÊNCIA ANTI-SOCIAL

Numa conferência proferida em 1956 para a Sociedade Britânica de Psicanálise, Winnicott escreveu;

“A tendência anti-social cria para a psicanálise alguns problemas espinhosos, problemas de natureza prática e teórica. Freud, através de sua introdução ao livro de Aichohorn, Wayward Youth, mostrou que a psicanálise não só contribui para a compreensão de delinqüência como é enriquecida por uma compreensão do trabalho daqueles que lidam com delinqüentes (...). Decidi discutir não a delinqüência, mas a tendência anti-social. A razão é que a defesa anti-social organizada está sobrecarregada de ganho secundário e reações sociais que tornam difícil ao investigador atingir seu amargo. Em contrapartida, a tendência anti-social pode ser estudada tal como se apresenta na criança normal ou quase normal, onde se relaciona com dificuldades inerentes ao desenvolvimento emocional.”
Apesar desta relação apontada por Freud, os distúrbios de caráter e a delinqüência não têm, a meu ver, por razões várias, recebendo da psicanálise toda a carga de conhecimento e de pesquisas que poderiam ser levantadas por este portentoso problema que preocupa hoje em dia a humanidade inteira. Assim sendo, os trabalhos de Winnicott a este respeito, embora escritos nas décadas de 40, 50 e 60, ainda conservam todo um frescor, oportunidade e sentido para os dias atuais. Continua ele;

“A tendência anti-social não é um diagnóstico. Não se compara diretamente com outros termos diagnósticos como neurose e psicose. A tendência anti-social pode ser encontrada num individuo normal ou num individuo neurótico ou psicótico.”

Para ele a tendência anti-social está sempre relacionada a uma privação importante no passado do individuo, muito embora essa privação – representada, por exemplo, pelo nascimento de um irmão ou por um episódio depressivo na vida da mãe – possa passar despercebida pelo meio ambiente. Em suas palavras;
“Uma criança sofre privação quando passam a faltar características essenciais da vida familiar. Torna-se manifesto um certo grau de privação.
O comportamento anti-social será manifesto no lar ou numa esfera mais ampla. Em virtude da tendência anti-social, a criança poderá finalmente ter que ser considerada desajustada e receber tratamento num alojamento para crianças desajustadas, ou pode ser levada aos tribunais como criança incontrolável. Agora, delinqüente a criança pode tornar-se um individuo em liberdade condicional, sob mandado judicial ou ser enviada para um reformatório (...) Caso todas essas medidas fracassem, o jovem adulto será considerado um psicopata e remetido pelos tribunais para um instituto correcional para jovens delinqüentes ou para uma prisão.”
Noutro trecho, continua Winnicott;
“Existe uma relação direta entre a tendência anti-social e a privação (...) Deve-se a John Bowlby o fato de haver hoje um relacionamento generalizado das relações entre a tendência anti-social e a privação emocional, tipicamente no período que vai até a idade em que a criança começa a dar os primeiros passos, entre um e dois anos de idade (...) Quando existe uma tendência anti-social, houve um verdadeiro desapossamento (não uma simples carência); quer dizer, houve perda de algo bom que foi positivo na experiência da criança até uma certa data e que foi retirado; a retirada estendeu-se por período maior do que aquele em que a criança pode manter viva a lembrança da experiência.”
Numa das suas visões clínicas mais simples e integradoras sobre este problema ele adverte que;
“Existem sempre duas direções da tendência anti-social, embora às vezes uma seja mais acentuada do que a outra. Uma direção é representada tipicamente pelo roubo e a outra pela destrutividade. Numa direção a criança procura alguma coisa, em algum lugar, quando tem esperança. Na outra a criança está procurando aquele montante de estabilidade ambiental que suporte a tensão resultante do comportamento impulsivo. É a busca de um suprimento ambiental que se perdeu , uma atitude humana, que uma vez que se possa confiar nela , dê a liberdade ao indivíduo de se movimentar, agir e excitar. É sobretudo por causa da segunda tendência que a criança provoca tendências ambientais totais, como buscando moldura cada vez mais ampla , um círculo que teve como seu primeiro exemplo os braços da mãe ou o corpo da mãe. È possível discernir uma série : o corpo da mãe , os braços da mãe, a relação parental, o lar, a família, a escola, o país com suas leis”
Sobre o Roubo ele escreve:
“O furto está no centro da tendência anti-social, associado a mentira. A criança que furta um objeto não está desejando o objeto furtado, mas a mãe sobre quem ela tem direitos. Será possível unir as duas tendências, o furto a destruição, a busca do objeto e aquilo que a provoca, as compulsões libidinosas e agressivas? Na minha opinião, união das duas tendências está na criança e representa uma tendência para uma autocura, cura de uma dissociação de instintos. Quando há na época, na privação original, alguma razão de fusão de raízes agressivas(ou motilidade) com raízes libidinais, a criança reclama a mãe por uma combinação de furto, agressividade e sujeira, de acordo com detalhes específicos do estado de desenvolvimento emocional dessa criança. Quando existe menos fusão, a busca do objeto e agressão estão mais separadas uma da outra e há uma maior grau de dissociação da criança. Isso leva à proposição de que o valor de incômodo da criança anti-social é uma característica essencial, e também é, sob o aspecto positivo, uma característica favorável, que indica uma potencialidade de recuperação da fusão perdida dos impulsos libidinais e motilidade”
Sobre o valor do incômodo do bebê em relação à mãe, Winnicott está referindo a “amolação” que uma criança impõe à mãe através de uma enurese noturna ou as expensas de um comportamento de bagunça, de um dirigir-se constantemente à mãe para incomodá-la e para receber uma resposta qualquer desta. Por este motivo para ele qualquer exagero do valor do incômodo de um bebê pode indicar a existência de certo grau de privação anti-social. A manifestação da tendência anti-social inclui roubo, mentira, incontinência e modo geral, uma conduta desordenada, caótica. A partir deste estudo da tendência anti-social há sempre uma esperança. Enquanto existe um comportamento anti-social de provocação há esperança da criança de que o meio se recupere e lhe forneça a provisão ambiental que lhe é devida. Entretanto num bom número de casos, ou o ambiente não reconhece a privação e a falta e não se corrige, ou quando o faz, a criança a esta tentativa de cura ou de alguma. Este é um dos aspectos mais intrigantes e frustradores “do tratamento analítico destes pacientes eles reivindicam, de várias formas, um tipo de ajuda e quando lhe és oferecido e uma oportunidade de recuperação” (Mello 1989)
Winnicott sublinha o tempo todo que a terapia da privação original e da tendência anti-social em privação original e da tendência anti-social em estruturação é realizada pela própria mãe e pela família como um todo, ou numa instituição especializada. Neste casos na segunda intenção poderíamos acrescentar sobre a perda original Winnicott acrescentou que a perda original que há um ponto especial de deve-se sublinhar. Na base da tendência anti-social está uma boa experiência emocional que se perdeu. Sem dúvida é uma característica essencial que o bebê tenha atingido a capacidade que a causa do desastre reside numa falha ou omissão ambiental. O Estado de maturidade do Ego, possibilitando uma percepção desse tipo, determina o desenvolvimento de uam doença anti-social, em vez de uma doença psicótica.

Estados Depressivos




Estados Depressivos.

Sem sombra de dúvida, podemos afirmar que na atualidade, que os quadros clínicos de depressão vêm mostrando significativo crescimento na prática analítica. No entanto devemos ressaltar alguns fatos bem importantes sobre os tratamentos, tipos de estados depressivos e equívocos decorrentes de atendimentos precipitados. Para tal justificativa vou me amparar em dados estatísticos para balizar de maneira séria e honesta alguns dados que trago a seguir.
1.Entre as dez mais importantes doenças incapacitante de indivíduos, cinco são emocionais, dentre elas a depressão: é a primeira delas.
2. 50% (cerca de) de médicos não psiquiatras ou psicanalistas não diagnosticam ou se o fazem cometem equívocos importantes e prejudiciais usando benzodiazepínicos ou antidepressivos em dosagens erradas.
3.O números de estados depressivos está aumentando.
David Zimerman psiquiatra e psicanalista afirma: “virtualmente, em todos os quadros de patologia mental existe subjacente, alguma forma de estado depressivo”
4. É grande o número de “depressões subclínicas”, melhor dizendo estados depressivos que não se mostram ou se manifestam de forma evidente e sim por traços inaparentes, como por um estado de continuada apatia, ou vir a se revelar por hipocondria, alcoolismo, transtornos alimentares, etc. Segundo Zimerman podemos classificar:

Tipos:
a) Atípica: mais conhecida com os nomes de “depressão neurótica” ou “depressão reativa”. Seu perfil é único e resulta de alguma forma de crise existencial, por razões predominantemente internas ou externas. Habitualmente não respondem bem à medicação.
b) Endógena: resulta de causas orgânicas e manifesta-se com sintomatologia mais típica, adquirindo características “unipolares” (os sintomas são unicamente depressivos) ou “bipolares” (os sintomas tanto podem ser da esfera depressiva ou, em um pólo oposto, de natureza “maníaca”). Apesar de serem endógenas, comumente elas podem ser desencadeadas por fatores ambientais, se assemelhado qualitativamente à depressão atípica. Costuma responder bastante bem à moderna medicação antidepressiva, quando adequadamente ministrada e, principalmente, quando acompanhada de alguma forma de terapia de base analítica.
c) Distímica: esta denominação corresponde à depressão que comumente é de chamadas de “crônica”.

Principais Causas da Depressão
A) Depressão anaclítica: resulta de um primitivo “vazio de mãe”.
B) Identificação com o objeto perdido: corresponde ao clássico aforismo de Freud – “a sombra do objeto recai sobre o ego” - , com um luto mal-elaborado desse objeto, de maneira que propicia a instalação de quadros “melancólicos”.
d) Depressão por perdas; tanto de objetos importantes – especialmente quando foram perdas prematuras, traumáticas e significativas – como também de partes do ego, tal como acontece nas “depressões involutivas”, quando o sujeito que está entrando em idade mais avançada sente estar perdendo o vigor físico, a concentração, a memória, etc.
e) Depressão por culpas; neste caso, a depressão é determinada pela ação punitiva de um superego tirânico, aquilo que também chamamos de uma autocrítica punitiva.
f) Identificações patógenas: em especial aquelas que, particularmente, tenho proposto a denominação de “identificação com a vítima”.
g) Ruptura com os papéis designados: a depressão provém da ação de um “ego ideal” – que obriga o sujeito a corresponder os inalcançáveis ideais que o seu narcisismo original exige – bem como de um “ideal de Ego”, que resulta das expectativas grandiosas que os pais e o ambiente circundante depositaram no sujeito, desde bebezinho, atribuindo-lhe papéis que ele deverá executar pelo resto da vida, caso contrário, despertam nele uma sensação de traição, vergonha e humilhação.
h) Depressão decorrente do fracasso narcisista: Muito freqüente; estado decorrente de algum tipo de fracasso que o sujeito fortemente fixado naquilo que chamamos de “posição narcisista”, sofre diante de enormes demandas de obtenção de êxitos sucessivos, como dinheiro, poder, prestígio.
i) Pseudodepressões: Como no tipo de pessoa que atravessa uma vida inteira aparentando desvalia e pobreza que não correspondem a sua realidade. Comporta-se desta maneira por motivos como: medo de atrair a inveja retaliadora; medo de provocar tristeza naqueles que o invejarem; medo de se tornar a partir do olhar do outro uma fonte inesgotável de provimento e satisfação de necessidades; uma forma de parecer ser um sofredor, que para ele representaria um merecimento do amor do outro.

Sobre o tratamento:

Em todas as situações descritas e motivos de estados depressivos, cabe lembrar que não são necessariamente situações ou motivos estanques, rígidos, ou únicos. O sujeito pode apresentar motivos em algumas situações concomitantes. A Indicação para tanto é a psicoterapia e não cabe também discutir a eficácia dos antidepressivos. Mas chamamos a atenção para o uso indiscriminado e uso equivocado dos benzodiazepínicos, aquilo que chamamos de “medicalização” . Evidente que o uso de antidepressivos é importante e não exclui a psicoterapia. Consenso é em casos mais graves e importantes o uso combinado e adequado da psicoterapia e dos antidepressivos. Lembrando dados estatísticos do FDA dos Estados Unidos: entre 100 suicidas nos deste país, 80 usavam somente antidepressivos (dados de 2007).

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Barroco Hi-Tec


O Sujeito Fragmentado: Barroco Hi-Tec.


Se fizermos uma leitura da contemporaneidade, ou como preferem outros “a pós-modernidade” a partir da globalização neoliberal, vamos identificar como muita facilidade com a crise dos estados-nações, com seus enfraquecimentos de suas fronteiras, de distinções entre culturas, aliados a uma mobilidade econômica, geográfica e cultural. Somamos isso as características da natureza geral da guerra e da paz no final do século XX, como diz Bartucci (2006) “uma linha divisória que distingue os conflitos internos dos internacionais que desapareceu ou tende a desaparecer” e com isso reconhecermos no contemporâneo o “lugar da ausência das garantias”
Essa confirmação se é ratificada pelo discurso de nossos analisandos e profissionais em supervisão clínica que recebemos em nosso consultório. Ainda mais, os indivíduos que nascidos no pós-guerra, encontram-se produtivos demonstrando preocupações com seus filhos e netos. Os que se demonstram improdutivos tenta entender o que “deu errado” por meio de uma experiência da ressignificação da sua singularidade, ou subjetividade. .
Fato inquestionável: as novas gerações não têm expectativa de futuro. Participantes deste mundo globalizado, reféns das exigências da contemporaneidade “da performance permanente” os sujeitos fazem acontecer ou pelo menos lançam mão de todos os instrumentos de que dispõe para não ficar de fora, corroborando a promoção da indistinção entre ser e perecer.
Sociólogos, Economistas, historiadores, que trabalham com o tema do “mundo contemporâneo”, enfatizam que dos sujeitos exige-se que sejam ágeis, disponíveis à rápidas mudanças, que assumam riscos continuamente. “Entregues a própria sorte sua autonomia configura-se como uma ilusão de liberdade”
Lembrando o Filósofo Valter Benjamim, é assim que mergulhados neste bojo de processos psicológicos de “normalização” em abandono aos processos que tem como base entre o mesmo ( o eu) e o outro (com quem me relaciono), “sitiados” entre o desejo de normalização e a possibilidade de existência e de resistência em face a renúncia de qualquer plano ou esperança utópicos, constata-se que a fragmentação do sujeito, da subjetividade tem seu lugar em uma nova configuração social constituída no ocidente. O chamado autocentramento, Bartucci (2006), conjugando-se assim ao valor da exterioridade – os destinos do desejo assumindo uma direção autocentrada e exibicionista resultado daí em um deslizamento generalizado do “ser” para o “parecer”. Morte ao Vivo. A falência da subjetividade. Os abusos das drogas sejam elas compradas em “Bocas” ou em “Farmácias”. Em pílulas ou livros de auto-ajuda.E mais alguns ditames que perambulam erroneamente e pergunto: Meu filho vai ser aquilo que eu compro?

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sobre a Agressividade.




Sobre Agressividade.

Para reportar estes conceitos, buscarei elementos importantes no trabalho do Psicanalista Inglês Donald Winnicott. Tema este que sempre interessou o Médico e pediatra e que hoje inunda a mídia.
É Verdade há muito na literatura psicanalítica vinculando a agressão (em especial aquela relativa à frustração, a raiva) com o principio daquilo que chamamos de “principio da realidade”. No Entanto Winnicott utilizou a teoria psicanalítica de um modo muito característico, não olhando para a “destrutividade” como um “instinto de morte” como está colocado na obra Freudiana. Acredita-se então que a agressão pode ser vinculada à motilidade pré-natal do bebê, aos impulsos do feto, àquilo que contribui para o movimento do feto ao invés da quietude. Para tanto necessitamos de um termo com força vital. Novamente a agressividade, como nas suas origens é quase sinônimo de movimento, uma questão de função parcial.
Sobre isso Winnicott descreve: “um bebê dá pontapés dentro do útero; não se pode supor que ele esteja querendo sair. Um bebê de algumas semanas abana os abraços; não se pode dizer que ele tem a intenção de bater. Um bebê morde os mamilos com a gengiva, não se pode dizer que ele tem a intenção de destruí-lo ou machucá-lo; Na sua origem a agressividade é quase sinônimo de atividade, é uma questão de função parcial, são estas funções parciais que a criança a medida que se torna uma pessoa, gradualmente se organiza, dando origem a agressão. Um paciente quando doente pode exibir atividade e agressividade sem uma intenção precisa. Entretanto, toda vez que o comportamento tem um propósito, há intenção de agressão” A agressão faz parte da expressão primitiva do amor
Assim, do mesmo modo como valorizou a tendência natural ao movimento dos seres vivos como a raiz básica da agressividade, podemos postular também que a oposição ao movimento natural de uma criança por parte do ambiente tende a acentuar a resposta agressiva por parte do bebê. Ele falou mesmo da graduação, desde uma oposição tão ferrenha que não dá oportunidade à criança de ter possibilidade de existir, até uma oposição adequada, que dá ao ser a possibilidade de recebê-la como um limite adequado e mesmo protetor. Numa condição intermediária o ser passa a existir apenas através de reações à oposição que lhe está sendo feita.
Em ‘Agressão e suas raízes’ (1964, Privação e Delinqüência), Winnicott escreveu sobre a importância da fantasia:
“O que sabemos sobre a origem dessa força inerente aos seres humanos e subjacentes à destrutiva ou seu equivalente no sofrimento sob autocontrole? Por trás dela está a destruição mágica. Isso é normal para a criança nas primeiras fases do seu desenvolvimento e caminha lado a lado com a criança mágica. A destruição primitiva e mágica de todos os objetos está ligada ao fato de que (para a criança) o objeto deixa de ser parte de ‘eu’ para ser ‘não eu’, deixa de ser fenômeno subjetivo para ser percebido objetivamente. Geralmente esta mudança ocorre por gradações sutis, mas havendo uma participação deficiente da mãe estas mesmas mudanças ocorrem bruscamente e de uma maneira imprevisível para a criança... Ao acompanhar a criança com sensibilidade, através desta fase vital do início do desenvolvimento, a mãe estará dando tempo ao filho para adquirir todas as formas de lidar com o choque de reconhecer a existência de um mundo situado fora do seu controle mágico. Dando-se tempo para os processos de maturação, a criança se tornará capaz de ser destrutiva e de odiar, agredir e gritar, em vez de aniquilar magicamente o mundo”. (Winnicott, 1964).
Em “Agressão e sua Relação com o Desenvolvimento Emocional” (1950), ele já havia descrito três estágios no desenvolvimento da agressividade. No estágio inicial, que chamou de:
Pré-preocupação: “Pode-se dizer que a criança existe como pessoa e têm objetivos, apesar de não se preocupar com os resultados. Ela ainda não consegue reconhecer que o objeto destruído por sua excitação é o mesmo que ela valoriza nos intervalos tranqüilos, entre as excitações”(...) Na etapa seguinte, de Preocupação, “a integração do ego do indivíduo é suficiente para que ele avalie a personalidade da figura materna e isto tem um resultado extremamente importante: o indivíduo se preocupa com os resultados de sua experiência pulsional básica e ideacional”. Nesta etapa, surge a capacidade de sentir culpa e os desejos de reconstruir e reparar. No terceiro estágio, o da Personalidade Total, há a capacidade de desenvolver múltiplas relações interpessoais, a partir dos conflitos triangulares. Nesse estágio, o amor e a agressividade se apresentam fundidos. Enquanto Winnicott enfatizou mais a preocupação , M. Klein pôs maior na culpa, em relação à posição depressiva.
Winnicott, como Freud e outros psicanalistas, deu importância à fusão do amor e do ódio como forma da agressividade ficar controlada (e subordinada) ao amor. Ele também escreveu a propósito do sadismo que o indivíduo só se sente real quando é destrutivo e cruel. (1)
Ele acrescentou que uma boa parte da confusão existente neste terreno é devido ao fato de que freqüentemente usamos o termo agressão quando queremos dizer espontaneidade. “O gesto impulsivo se estende para fora e se torna agressivo, quando é atingida a oposição. Minha sugestão é a seguinte: é esta impulsividade, e a agressão que se desenvolve a partir dela, que faz com que o bebê necessite de um objeto externo, e não apenas de um objeto que o satisfaça”
Júlio de Mello Filho chamou a atenção para a similitude destas visões de Winnicott com as concepções de Freud sobre a agressividade contida em sua primeira tópica e, portanto, antes de sua visão final da oposição entre pulsão de vida e pulsão de morte.(2)
Com efeito, Freud escreveu em Três ensaios sobre a Sexualidade que;
“A crueldade em geral aparece facilmente na natureza infantil, já que o obstáculo que detém o instinto de domínio diante da dor de outra pessoa, ou seja, a capacidade para a piedade, se desenvolver regularmente tarde (...). Pode-se presumir que o impulso da crueldade surge do instinto de domínio e aparece num período de vida sexual em que os órgãos genitais ainda não assumiram ser papel ulterior”. Nesta mesma linha de pensamentos Freud escreveu neste mesmo trabalho sobre “Atividade muscular” que. “Estamos todos familiarizados com o fato de que as crianças sentem a necessidade de grande dose de exercício muscular ativo e tiram extraordinário prazer da satisfação desta necessidade (...). Uma das raízes do instinto sádico pareceria residir na incentivação da excitação sexual pela atividade muscular.” Em “Os Instintos e suas Vicissitudes” ele também escreveu que. “O ódio, enquanto relação com objeto é mais antigo que o amor. Provém do repúdio primordial do ego narcisista ao mundo externo com seu extravasamento de estímulos. (3) A história das origens do amor nos permite compreender por que é que o amor com tanta freqüência se manifesta como ambivalente – isto é, acompanhado de impulso de ódio contra o mesmo objeto”. (4)