sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mas eu me mordo de ciúmes!



“Eu quero levar uma vida moderninha
Deixar minha menininha sair sozinha
Não ser machista e não bancar o possessivo
Ser mais seguro e não ser tão impulsivo
Mas eu me mordo de ciúmes”
(ultraje a rigor)




A estrofe da música acima há 20 anos faz sucesso e ainda é cantada. Não é à toa. Fala muito, com bom humor de uma característica humana: O Ciúme.


A pessoa que desenvolve um ciúmes, um ciúme possessivo e obsessivo pelo parceiro pode estar sofrendo de um distúrbio obsessivo possivelmente começa apresentar sintomas daquilo que em psicanálise chamamos de uma personalidade obsessiva compulsiva.

Devemos observar que a pessoa que sofre com o ciúme por ter uma Personalidade Obsessiva compulsiva tem um funcionamento característico com uma sintomatologia a ser observada:
Alguns Exemplos seriam:

Há um padrão persistente de preocupação com asseio, perfeccionismo, controle mental e interpessoal.

Há pouca flexibilidade, transparência, relaxamento das preocupações de dos pensamentos, os pensamentos apresentam pouca eficiência, os pensamentos acontecem recorrentemente, ou seja, não saem da cabeça.




Este distúrbio pode começar no início da vida adulta e apresentam uma variedade de contextos, como indicado por quatro (ou mais) dos seguintes sintomas:

1. Estar preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários e com o que ainda vai fazer
2. Mostra perfeccionismo que interfere com a tarefa concluída (por exemplo, é impossível concluir um projeto devido ao aumento de suas próprias exigências das normas e regras)
3. É demasiadamente dedicado ao trabalho e produtividade e deixa de lado as atividades de lazer e amizades.

4. É muito convencido de seus próprios pensamentos, não aceita a opinião alheia, ou não acredita nas evidências que a outra pessoa aponta, é escrupuloso, é inflexível em matéria de moralidade, ética ou valores.

5. É incapaz de se desfazer de objetos sem valor, mesmo quando estes não têm valor nem sentimental

6. Mostra-se relutante em delegar tarefas ou a trabalhar com outras pessoas, salvo se apresentarem exatamente a sua mesma maneira de fazer as coisas e a mesma forma de pensamento que o seu.
7. Adota um estilo pão-duro, o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para as futuras catástrofes
8. Mostra rigidez e teimosia
9. Acredita piamente em seus pensamentos e acha que os outros estão mentindo. NO caso do ciúme, nunca aceita a explicação do outro, ou acha que está sendo sempre enganada.
10. Pensa o tempo todo em como controlar a outra pessoa a ponto de querer acompanhar tudo o que ela faz, onde está o que está pensando, numa necessidade de posse do outro.
11. Demonstra tentativas de controle sobre situações e vínculos afetivos.
12. Briga com o passado como se o presente se misturasse ao mesmo. Tem ciúmes do passado e presentifica o passado como se ela mesma fosse protagonista de situações das quais por questões temporais nem fez parte. Não estava lá.
Devemos esclarecer que estes sintomas podem também levar há uma total desorganização emocional provocando cisões de ego e até depressão.



Tratamento:
Os indivíduos que sofrem desta desordem de personalidade muitas vezes se caracterizam pela sua falta de abertura e flexibilidade, não só em suas rotinas diárias, mas também com as relações interpessoais e expectativas.

As imensas preocupações com asseio perfeccionismo e controle de suas vidas e de suas relações ocupam grande parte de sua vida.

As opções de tratamento opções que não se encaixam no projeto de programa de tratamento do cliente provavelmente será rejeitada rapidamente ao invés de ser uma tentativa aprovada por ele.

Os indivíduos que sofrem deste distúrbio têm dificuldade em incorporar novas informações e mudanças em suas vidas.

Para incorporar novas aprendizagens é necessário uma empatia muito grande com o terapeuta para que o mesmo consiga colocar novos planos de vida e confrontação com a realidade para que ocorra novas reestruturações cognitivas.

A técnica de relaxamento é uma indicação para concorrência com os pensamentos disfuncionais e com a ansiedade vivida pela necessidade de controle.

A capacidade para trabalhar com os outros é igualmente afetada, uma vez que eles vêem o mundo em preto e branco, acham que somente a sua maneira de fazer as coisas é a correta. Naturalmente, essa lógica defeituosa também será traduzida para a sua relação terapêutica com o psicanalista e seu tratamento.

Dessa forma, cabe ao psicanalista saber que será improvável ter sucesso na utilização de técnicas ou tratamentos que não tenham sido previamente aprovados pelo paciente para o uso.

Às vezes isso pode ser feito simplesmente por afirmar a eficácia de um determinado tratamento para um problema específico, citando as pesquisas.
Quando essa desordem de personalidade é combinada com a apresentação de uma doença, deve ser utilizado abordagem multidisciplinar para o uso de terapia medicamentosa para maior eficácia.

A técnica de confrontação com a realidade e a busca de evidências na terapia analítica é uma forma que ajuda muito a pessoa com ciúmes obsessivo a entender o modo de funcionamento de seus pensamentos e fantasias, conseguindo diferenciar entre estes aspectos.

A terapia de casal pode ser indicada quando o ciúmes está focado no parceiro que não aceita sua doença e terapia e, conseqüentemente fica mais fácil aceitar o atendimento terapêutico para ambos.

O ciúmes possessivo atrapalha a relação do casal e se não for trabalhadas estas questões acontece o desgaste muito rápido na relação, interferindo em direitos e deveres de cada um e principalmente no respeito entre o casal.

A busca de ajuda terapêutica permite uma melhor avaliação do contexto e pode haver encaminhamento para uma avaliação clínica, pois em alguns casos há a necessidade de intervenção medicamentosa para maior controle da ansiedade e dos pensamentos obsessivos.

Há de se dizer: àqueles que lêem: Não se deve procurar promessas de curas imediatas. Não sem tem notícia séria e científica que o ciúme seja herança de uma vida passada, ou tão pouco isso venha a se tratar em “curandeirismos” como a hipnose que nunca foi uma técnica psicanalítica e que por Freud foi abandonada em 1909 quando então fez seus primeiros tratados psicanalíticos longe da hipnose, ou seja, há mais de 100 anos.