domingo, 19 de dezembro de 2010

O MAL ESTAR NA COMTEMPORANEIDADE: HISTERIA, RANCOR E MALIGNIDADE





“Deus está morto. Marx está Morto. E eu, para falar a verdade, não me sinto muito bem"
(Woddy Allen)



Inicialmente, gostaria de agradecer a organização do Encontro que me oportunizou a possibilidade de estar aqui para discutir algumas questões que fazem lugares e momentos na clínica psicanalítica contemporânea. Evidente que tal pressuposto não se esgotaria, motivo pelo qual, escolhi alguns pontos para trazer a debate.

Falemos um pouco então, daquilo que talvez, seja o mote central do contemporâneo: O Mal Estar e num segundo momento, discutiremos aquilo que se denomina como Histeria Maligna.


1. O Mal Estar e o Mundo Contemporâneo.

Há um lugar para conceber que as pedras falam e que há a possibilidade de se entender o idioma inconversável delas . Mas para tanto há de ter poesis, há de ter criação. Freud quando apresenta as descobertas possibilitadas pelo emprego do método psicanalítico na observação e escuta dos sintomas histéricos, afirmou: "As Pedras Falam" . O produto da atividade neurótica, símbolos mnêmicos das atividades infantis recalcadas, são potencializados pôr uma linguagem que então, traduzida e decifrada, informa sobre experiências e acontecimentos do passado que testemunham sobre a origem da doença. A experiência psicanalítica que se funda no método da interpretação, que elucida os sentidos mais ocultos dos sintomas, configura-se como a "cura pela fala" que nos remete a pensar que tudo o que pensamos. Falamos e ao falar utilizamos uma linguagem que é composta de palavras, pois a “escrita é sempre a escrita de uma fala” [SAFOUAN]; o inconsciente se estrutura como uma linguagem solicitando como uma condição operacional, a inscrição de eventos no inconsciente, melhor dizendo, no registro das representações.

“Aonde não há poesis, pedras passam por pedras mesmo. O terreno, por conseguinte não é propicio à descoberta de objetos marcados por inscrições codificadas" (Lowenkron )

Dentro desta perspectiva, o terreno não seria propicio à descoberta de objetos marcados por inscrições e passíveis de tradução. Na verdade, a psicanálise, desde sempre facultou esta possibilidade, testemunhada na formação das "neuroses atuais". Falemos, então, de estados neuróticos desprovidos de atividade criadora, impossibilitados de realizar a passagem da intensidade pulsional para o registro da interpretação. Esclarecendo, das dificuldades encontradas pelo sujeito para a simbolização, melhor dizendo, para efetuar o processo de simbolização, surgem os sintomas que, supostamente, não são portadores de sentido. Seriam sintomas que não falam, mas explicitam perturbações de economia sexual somática. Tal economia exerceria um conhecimento não pensado, não inscrito no registro da representação. Neste processo, ocorrem manifestações que são sentidas, percebidas como um Mal-Estar que não encontra definição que, muitas vezes não se localiza. Um Mal Estar Indizível. Essas categorias clínicas demarcam fortes limites ã clínica psicanalítica, tal como se apresenta e se pensa fundamentalmente na clínica baseada do recalque.

As questões seriam: sobre quais diferenças estamos falando, quando e por que elas acontecem? Bion diz que talvez encontremos mais "Hamlets" do que "Édipos". Roudinesco afirma que "Os pacientes dos anos 90 são muito diferentes daqueles dos primeiros tempos" e continua a autora, que cada um de nós não cessa de confirmar na própria experiência.


Penso que as questões colocadas até agora, não são nenhuma novidade para quem nos ouve, neste momento, muito antes pelo contrário, também refletem e sentem o mal estar com o qual se deparam quotidianamente. Com tais questões e, concordam os psicanalistas, sejam quais forem suas premissas ou tradições de pensamento psicanalítico que, existem mudanças importantes na economia psíquica do homem contemporâneo.

Falando de sofrimento psíquico na atualidade, destacam-se os chamados transtornos depressivos, que se caracterizam por sentimento de um vazio interior, redução de auto-estima, falta de identidade, empobrecimento da experiência subjetiva e criativa, somatizações graves, as toxicomanias e os modos perversos de existência.


“As pessoas que vêm consultar-nos, começam geralmente por relatar uma depressão, maior ou menor, uma dificuldade de viver, uma incapacidade para fazer as coisas mais simples. Nas entrevistas, por vezes reconhecemos o que classicamente conota a depressão: abatimento, inibição do pensamento, sentimento de vazio, cansaço, apatia, impossibilidade de amar, impotência ou frigidez, sentimento de inferioridade, de inadaptação ou ausência de valor" CHEMAMA,R

Não se pretende, aqui, uma revisão teórica, mas sim, evidenciar uma coalizão de pensamentos psicanalíticos acerca do sofrimento psíquico que se apresenta no mundo contemporâneo, os desafios da clínica psicanalítica que, por sua vez tem seu setting redimensionado por sofrimentos e sujeitos que se manifestam sob a forma de sintomas narcísicos, depressivos, com dificuldade de articular narrativas, suas próprias histórias, suas experiências, amores e dores.
Além da marca deste discurso há uma solicitação imediata da remissão deste quadro, o alívio rápido, e a dificuldade de aceitar um trabalho sistemático e regular que a psicanálise solicita.

ROUDINESCO afirma que a depressão deveria ser pensada muito mais como um avatar do que propriamente como uma entidade autônoma. ROUDINESCO enfatiza que a histeria, evidentemente não desapareceu, no entanto ela está sendo cada vez mais tratada e vivida como uma depressão. O modo depressivo então, de sofrimento guarda conformidade com o que se chama de sociedade depressiva, na qual então, se instaura, e o paradigma da histeria é "substituído pelo da depressão" .

No entanto a categoria denominada como depressão (cabendo distingui-la da melancolia) atualmente ampara-se fortemente no discurso psiquiátrico e seus ideais fálicos, já evidenciados por MICHEL FOUCAULT em sua obra “A Micro-Física do Poder" que, por sua vez trabalha com um método empírico experimental, produzindo, conseqüentemente um campo fecundo de pesquisa para psicofarmacologia, para neurociências e outras disciplinas que operam num contexto de pensamento notoriamente não-neutro, tratando os transtornos depressivos como anomalias, mal funcionamento cerebral, cujo o comportamento possa vir a ser corrigido por meio de medicamentos, tornando dispensável a busca de sentido para os sintomas.


2. A Histeria: Rancor e Malignidade.

a) Sobre o Rancor. Historicamente, a histérica, ou a histeria, se manifestou em todas as culturas como uma máscara que refletia a moralidade manifesta assim como as aspirações sexuais mais escondidas. Conta a história que a histeria tanto foi identificada como algo santificado, como algo que representava a feitiçaria. Apenas no século XIX, no seu final, que Charcot estabeleceu algo que podemos chamar de estatuto da histérica . No entanto coube a Freud, definir a natureza e o caráter da histeria, respeitando suas resistência que se manifestavam na recusa da histérica ao tratamento ou, propriamente falando na sua má vontade para com o mesmo. Em 1895 Freud postula que o não saber da paciente histérica seria de fato, um não querer saber.

"Todos sabem que Freud atribui inicialmente este não saber a episódios de sedução sexual real na infância antes de relacioná-los a fantasmas de sedução recalcados que o paciente expressava, no presente, através de uma linguagem somática, mas do qual se recusava psiquicamente tomar consciência"(M. Khan)

Freud iniciou, de maneira inovadora determinando a etiologia dos sintomas histéricos, destacando o papel predominante e quase exclusivo da sexualidade infantil. Desta maneira o Histérico, por um lado, seria um indivíduo que tentaria encarar suas experiências que haveriam acontecido no curso de seu desenvolvimento inicial, que por sua vez ultrapassariam de forma significativa os meios da personalidade incipiente. Por outro lado, no entanto, encontrava na sua infância, apenas uma compreensão do seu meio. Para M. Khan, no seu texto, o rancor da histérica, desde os escritos iniciais de Freud não havia dados significativos na literatura que permitissem compreender melhor o histérico. A hipótese de M. Khan é que nos primeiros anos de sua infância o histérico é marcado por faltas de uma maternagem suficientemente boa e, desta maneira, acabaria por responder com um desenvolvimento sexual precoce. Estaríamos falando então de um Holdind não apropriado (handling?) que produziriam angústias e afetos primitivos e a ameaça que resultaria para coesão do eu nascente conjurados pela intensificação do corpo e pela exploração dos aparelhos sexuais do mesmo. Dentro desta dinâmica, se assim pudemos chamar, desde os seus primórdios, então, se estabeleceriam as dissociações entre a experiência sexual e a utilização criativa das capacidades do eu.

Na vida adulta, então, o histérico responde à angústia pela sexualização, empregando em suas relações objetais os aparelhos sexuais do eu-corpo em prejuízo de relações afetivas e das funções do eu. Por sua vez as inibições e as atuações marcam as experiências sexuais. Ao utilizar os aparelhos sexuais, o histérico tenta realizar o que outros conseguem pelo funcionamento do eu. KHAN diz que “(...) É essa tentativa que explica o seu desejo ardente de experiência sexual, desejo que só se compara à sua incapacidade de manter uma relação amorosa ou dela se alimentar. É por isso que, nas experiências que eles mesmos têm, os histéricos vivem um estado psíquico de rancor perpétuo". Dentro desta perspectiva podemos entender que os histéricos sentem que algo é mantido fora de seu alcance e que, seus desejos não seriam reconhecidos por aquilo que de fato são. O que seria uma incapacidade do eu nascente na experiência infantil, relatada anteriormente (o problema do Handling), na vida adulta acaba por ser projetada como uma recusa do Outro em reconhecer seus desejos (preponderante sexuais) e satisfazê-los. Os histéricos acreditam que se estes desejos sexuais e anseios fossem gratificados, eles então estariam curados. Sendo assim atribuem ao Outro a incapacidade de conseguir essa gratificação e o culpabilizam pela impossibilidade de aceita-los totalmente e amar. Com essa psicodinâmica, engendra-se uma excessiva dependência em relação ao objeto amado, uma tentativa de delegar ao Outro as funções pessoais do eu, um subterfúgio de viver graças à solução sexual. Para Khan, mesmo que o histérico encontre esta solução em alguém, isto não acontece durante muito tempo, acabando em função de sua lógica inata e escondida pelo rancor e queixas.
Para esta questão M. Khan estabelece três hipóteses a partir de sua experiência Clínica:
a) Acredita-se que os histéricos não descobrem na puberdade sua sexualidade genital como algo novo que, por sua vez, ofereceria novas possibilidades ao eu-corpo. Explica Khan que há uma fuga em direção a uma sexualidade genital prematura, como um meio de enfrentar a imaturidade do eu. A sexualidade nascente, impregnada de impulsos e fantasmas pré-genitais, no momento da puberdade, não surpreende o histérico e não enriquece sua personalidade como uma nova experiência, mas reifica todos os sistemas fantasmáticos pré-genitais anteriores, mantendo um conflito agudo com o código moral e os valores que o indivíduo assimilou. O Histérico vive um papel de vítima das forças instituais e dos preconceitos morais como não sendo seus e, a partir daí, a única solução possível parece ser o agir. No entanto o Histérico fica a espera da ajuda do Outro para agir, permanecem passivos em função da dissociação entre o fantasma sexual e as funções do eu.”Os Histéricos tem necessidade de uma facilitação sexual por parte do outro para poder agir seus fantasmas sexuais latentes e recalcados. Existe uma procura através da solução sexual que é essencialmente a facilitação de um funcionamento inadequado do eu, e é esta dissociação entre o eu-corpo e as funções do eu que cria um outro estado desastroso para o histérico. O sucesso desta solução sexual, inconscientemente, significa a castração das capacidades do eu. Esta reedição sexual em relação ao objeto acarreta na ameaça de aniquilação, explicando então a recusa do histérico face ao objeto procurado e desejado”.

b) Segundo Khan existe um segundo fator que interfere contra o sucesso da solução sexual com o objeto exterior. Para o Histérico a experiência sexual constitui-se numa traição da confiança e uma exploração brutal do potencial sexual. Explicasse assim: Em qualquer relação de objeto há uma chamada ignorância fundamental. O objeto lê nos gestos do histérico a expressão de anseios e desejos sexuais e responde neste sentido enquanto que, na verdade se trata de uma linguagem simbólica do corpo que procurar expressar as necessidades primitivas de cuidado e proteção. Khan ilustra de maneira bem enfática essa expressão de rancor com um relato de uma paciente “aquilo que eu precisava era ser amada, e tudo que consegui obter foi que me tratasse como uma puta" Ou seja as necessidades corporais podem até ser satisfeitas, no entanto as necessidades do eu não foram reconhecidas nem facilitadas, o que por sua vez, seria essencial.

c) um terceiro ponto: Khan pensa neste vértice, uma terceira razão para o fracasso histérico pela resolução sexual. Continua o autor afirmando que umas das contribuições decisivas de Freud foi ter estabelecido que os sintomas histéricos são uma comunicação, tendo estes uma gramática própria. Winnicott acrescenta a esta hipótese uma outra dimensão quando distingui os sistemas de desejos inconscientes e os sistemas de necessidades inconscientes - o isso e o eu. Para ele os sistemas de desejos podem ser abordados pelos processos intrapsíquicos, como o deslocamento, a projeção e o recalcamento, ao passo que os sistemas de necessidades reclamam uma facilitação de um ambiente suficientemente bom, marcado pelo cuidado que tornem as capacidades incipientes das crianças autônomas. A partir deste ponto, Winnicott começa a compreender o funcionamento psíquico das chamadas "crianças delinqüentes" a dizer, a chamada "tendência anti-social". Sua hipótese seria de que esta tendência seria encontrada em todos os distúrbios da personalidade, indicando una verdadeira privação na primeira infância do indivíduo. Privação de boas experiências de vida, que foram interrompidas ou perdidas durante um período ou lapso de tempo, não facultando ao indivíduo a rememoração do que teria sido bom ou positivo. Esta experiência traumática será revelada ou manifestada pelo indivíduo através da "tendência anti-social" .

Khan, até mesmo por seu vínculo com Winnicott, valoriza o conceito “anti-social”, entendendo que histérico expressaria esta tendência pelo viés das experiências sexuais.O autor entende o histérico adota como solução um desenvolvimento sexual precoce para encobrir aquilo que Winnicott chama de uma falta da mãe que não pode prover as necessidades do eu da criança, uma mãe suficientemente boa. Isto, então, constitui a sexualidade adulta histérica, não tanto o veículo da gratificação, mas sim uma comunicação, um idioma, uma linguagem que o permitisse expressar a privação e uma maneira para informar a esperança de que o objeto saberá curar a dissociação, quando este decifrasse as necessidades do eu inconscientemente expressas no que se manifesta numa complacência sexual manifesta.Para Khan “a promessa da personalidade histérica traz em si uma esperança mais do que um desejo ou uma capacidade.”




Então se retomarmos a etiologia histérica percebemos, apoiados nos conceitos que Winnicott oferece, sobre o holding, o handling, a mãe suficientemente boa, a despersonalização, e a tendência anti-social, que o traumatismo real não é de natureza sexual, melhor dizendo, está antes ligado a um fracasso da mãe em prover as necessidades primárias da criança. A maneira pela qual a criança tentaria de se curar desse traumatismo seria através da exploração sexual do corpo constituindo um funcionamento psíquico do qual se valerá para as situações de conflito. A isso que Khan chama de autotratamento também condiciona a utilização, que ele, o histérico, dos objetos.

E fundamentalmente na área de relação do objeto, no uso do objeto, que o histérico vivenciou seus primeiros traumas e conheceu a desconfiança.Justifica-se, daí, a hiperssexualização da transferência, sendo que aquilo que parece intolerância frente à frustração sexual, é na verdade um sentimento que revela sua profunda desconfiança. É na transferência estabelece esta realidade psíquica, a dizer o rancor, através do qual pode entrar em relação com o outro, sem que haja mutualidade estabelecendo um tipo de vínculo que não permita que seja conhecido e ajudado.
A) A histeria e sua malignidade.

“É claro que a histeria não desapareceu, porém é ela cada vez mais vivida e tratada como uma depressão(...) a sua substituição é vivida e acompanhada, com efeito, por uma valorização dos processos psicológicos de normalização, em detrimento das diferentes formas de exploração do inconsciente(..) para a psicanálise, psicofarmacologia, para psicoterapia, homeopatia.”
ROUDINESCO


Bollas , inicia seu texto “O Histérico maligno” de uma forma contundente: Não há provavelmente, uma clínica na Europa que não seja visitada de vez em quando por aquilo que a equipe chamará de histérico maligno. Uma espécie de figura terrível no mundo psicanalítico, e que quando isso acontece vê-se os psicanalistas falarem de uma maneira muito particular e trêmula sobre o assunto, por ser tratarem de pessoas extremamente perturbadas e que, apesar disso a literatura sobre estas pessoas de quem se fala tanto com aparições tão marcantes são raras.

As primeiras referências sobre estas regressões foram distinguidas como Malignas e Benignas por Michel Balint. Na análise, os pacientes benignos seriam aqueles que abandonam um nível mais alto de funcionamento no curso das regressões naturais que ocorrem por meio da experiência transferencial.

Por outro lado existem aquelas que abandonam de maneira violente o nível mais alto de funcionamento como uma resposta transferencial e imediata ao analista requerendo cuidado e reparação do ambiente. Talvez estejamos então falando de uma regressão maligna. Para Bollas uma regressão é maligna se o paciente procura a delegação do self a fim de coagir o outro a um cuidado incondicional. O desejo do histérico maligno é de que o analista esteja lá para responde a sua demanda, o tempo que for preciso. Na Chamada condição maligna não há intenção inconsciente de devolver o self a independência, a análise é vista como o cumprimento de uma promessa.

Para distinguir;

Os pacientes esquizofrênicos, em sua tendência, irão regredir violentamente abandonando todo o controle do self, e muitas vezes com intenção que o analista cuide deles;
Os pacientes deprimidos, de forma crônica, por sua vez também vão procurara por tais asilos interpessoais com o mesmo objetivo, imprimindo ao analista o cuidado;

No entanto dentro do funcionamento depressivo e esquizofrênico, há de pontuar que geralmente, é facultada ao analista uma advertência clara de suas intenções, talvez invasivos, mas não intrusivos.

Os pacientes malignos têm como uma de suas características a surpresa, apresentado um estado de óbvio desespero, evocando seus desesperos com poder evocativo e sagaz, mostrando-se, pouco assentado na realidade.

“Certamente, é agoniante quando ele suplica para não ser rejeitado pelo analista, não ser abandonado pelo mundo. Com certeza ele desarma o analista ao prometer que fará tudo o que este pedir. Logicamente é estranho quando ele apaixonadamente confirma as observações do analista”.Bollas(2000)

O Histérico Maligno transforma o self num evento, para Bollas, é estabelecida uma lei familiar que permite atuação como comunicação, uma lei que transforma os chamados “estados internos da mente” em cenas enlouquecidas que capturam os outros. O self agora transformando em um evento, lança seus objetos internos nos outros reais

O histérico maligno acredita que somente sendo efetivo o outro irá ouvir e considerar o self. O Analista é aprisionado na esperança psicótica histérica, é convidado, sem a possibilidade de recusa, a ser uma testemunha (ou cúmplice) da idéias que deve sofrer deste aprisionamento e acreditar que o futuro é incerto e perigoso, até porque não está sobre controle.

O Histérico Maligno passa para o outro, aquelas identificações projetivas parentais que lhe haviam sido comunicadas primeiramente pela mãe e muito possivelmente pelo pai, segundo Bollas.
As identificações projetivas parentais que haviam sido comunicadas pela mãe, primeiramente, e pelo pai, de certa forma o Histérico Maligno passa para o outro. Sabe-se da import6ancia da identificação projetiva materna para o desenvolvimento psíquico para o bebê. Para Bollas no entanto, se neste conato está operando como um substituto do engajamento sensual do bebê, de maneira que a identificação projetiva seja a única forma de toque, então o bebê estará propenso a supervalorizar tais efeitos internos. “Posteriormente, diz Bollas, tal como no histérico maligno, se a mãe é o intermediário das identificações evacuativas dos pais dela, então ela irá projetar violentamente seus objetos internos em seu filho, que por ele será possuído. Esta é a etiologia da possessão histérica por espíritos invasores e estranhos”.

Os Histéricos malignos tenderiam a se sentirem deslocados por uma mistura de outros que tem. (seria uma ausência presente de um falso self?)

Transferencialmente, o histérico maligno traz uma realidade do tipo psicótica, também para o enquadre psicanalítico, dominando self com imagens e palavras que funcionariam como real. Nada mais que uma reedição, atualização ou rememoração erótica das narrações e atuações da mãe. Configura-se um modo bizarro de exploração dos objetos sexuais à custa de outros reais.

O processo de formação objetal é sexualizado. A mãe- maligna (ou torna-se) voltando se para um objeto interno que suporta seu bebê.A reversão do Conflito Original. Nas relações, a mãe atua cenas de intensidade erótica produzem nos outros um efeito de esfriamento.

Para Bollas este mesmo esfriamento, ocupa, então o analista, sendo parte de sua tarefa interpretar como o Histérico maligno “dês-constroi” sua personalidade a fim de intensificar essa internalidade expressa em uma exibição erótica e desafiadora de desejo que recusa e anula o outro

“Os histéricos-em–Psicose propõe aquela cena que eles não podem tolerar” Podem até tolerar uma mãe deprimida, ver um pai enfurecido e até a perda de um outro. No entanto a relação sexual parental é impensável. Isso não se trata naturalmente de um ataque ao vínculo, este muito mais próximo de uma idéia particular. Os personagens pai e mãe seriam os protagonistas guerreiros encontrados na representação de uma relação sexual violenta, entre as características femininas e masculinas.

“A Confiança construída na reciprocidade, é sentida como um insulto para o histérico. Parece uma mentira. Tal confiança é obra de idiotas(...) tais confianças devem ser anuladas. Devem ser violadas pelas visões e sons de uma outra cópula, que esteja totalmente embrulhada em si mesma (...) o histérico em psicose rompe a aliança terapêutica de uma cena primária auto-erótica, uma visão do self fodendo em si mesmo, enclausurado em um louco abraço que desafia qualquer outro a intervir” BOLLAS

O objetivo deste trabalho é estabelecer um diálogo que nos permita pensar: será que todas as categorias clínicas regressivas que encontramos são de fato estruturas psíquicas que podemos (ou queremos) nomear como depressões e estados borderlines? Ou será que a histeria sim está presente sobre um manto fenomenológico que nos permitem digressões “suficientemente boas” para podermos estar pensado em novas categorias da Histeria na Pós Modernidade. Será que os hospitais continuam como avisa Foucault, a expurgar a histeria o que significou que ela teria que aparecer de outra forma?

Nenhum comentário:

Postar um comentário