quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sobre a Agressividade.




Sobre Agressividade.

Para reportar estes conceitos, buscarei elementos importantes no trabalho do Psicanalista Inglês Donald Winnicott. Tema este que sempre interessou o Médico e pediatra e que hoje inunda a mídia.
É Verdade há muito na literatura psicanalítica vinculando a agressão (em especial aquela relativa à frustração, a raiva) com o principio daquilo que chamamos de “principio da realidade”. No Entanto Winnicott utilizou a teoria psicanalítica de um modo muito característico, não olhando para a “destrutividade” como um “instinto de morte” como está colocado na obra Freudiana. Acredita-se então que a agressão pode ser vinculada à motilidade pré-natal do bebê, aos impulsos do feto, àquilo que contribui para o movimento do feto ao invés da quietude. Para tanto necessitamos de um termo com força vital. Novamente a agressividade, como nas suas origens é quase sinônimo de movimento, uma questão de função parcial.
Sobre isso Winnicott descreve: “um bebê dá pontapés dentro do útero; não se pode supor que ele esteja querendo sair. Um bebê de algumas semanas abana os abraços; não se pode dizer que ele tem a intenção de bater. Um bebê morde os mamilos com a gengiva, não se pode dizer que ele tem a intenção de destruí-lo ou machucá-lo; Na sua origem a agressividade é quase sinônimo de atividade, é uma questão de função parcial, são estas funções parciais que a criança a medida que se torna uma pessoa, gradualmente se organiza, dando origem a agressão. Um paciente quando doente pode exibir atividade e agressividade sem uma intenção precisa. Entretanto, toda vez que o comportamento tem um propósito, há intenção de agressão” A agressão faz parte da expressão primitiva do amor
Assim, do mesmo modo como valorizou a tendência natural ao movimento dos seres vivos como a raiz básica da agressividade, podemos postular também que a oposição ao movimento natural de uma criança por parte do ambiente tende a acentuar a resposta agressiva por parte do bebê. Ele falou mesmo da graduação, desde uma oposição tão ferrenha que não dá oportunidade à criança de ter possibilidade de existir, até uma oposição adequada, que dá ao ser a possibilidade de recebê-la como um limite adequado e mesmo protetor. Numa condição intermediária o ser passa a existir apenas através de reações à oposição que lhe está sendo feita.
Em ‘Agressão e suas raízes’ (1964, Privação e Delinqüência), Winnicott escreveu sobre a importância da fantasia:
“O que sabemos sobre a origem dessa força inerente aos seres humanos e subjacentes à destrutiva ou seu equivalente no sofrimento sob autocontrole? Por trás dela está a destruição mágica. Isso é normal para a criança nas primeiras fases do seu desenvolvimento e caminha lado a lado com a criança mágica. A destruição primitiva e mágica de todos os objetos está ligada ao fato de que (para a criança) o objeto deixa de ser parte de ‘eu’ para ser ‘não eu’, deixa de ser fenômeno subjetivo para ser percebido objetivamente. Geralmente esta mudança ocorre por gradações sutis, mas havendo uma participação deficiente da mãe estas mesmas mudanças ocorrem bruscamente e de uma maneira imprevisível para a criança... Ao acompanhar a criança com sensibilidade, através desta fase vital do início do desenvolvimento, a mãe estará dando tempo ao filho para adquirir todas as formas de lidar com o choque de reconhecer a existência de um mundo situado fora do seu controle mágico. Dando-se tempo para os processos de maturação, a criança se tornará capaz de ser destrutiva e de odiar, agredir e gritar, em vez de aniquilar magicamente o mundo”. (Winnicott, 1964).
Em “Agressão e sua Relação com o Desenvolvimento Emocional” (1950), ele já havia descrito três estágios no desenvolvimento da agressividade. No estágio inicial, que chamou de:
Pré-preocupação: “Pode-se dizer que a criança existe como pessoa e têm objetivos, apesar de não se preocupar com os resultados. Ela ainda não consegue reconhecer que o objeto destruído por sua excitação é o mesmo que ela valoriza nos intervalos tranqüilos, entre as excitações”(...) Na etapa seguinte, de Preocupação, “a integração do ego do indivíduo é suficiente para que ele avalie a personalidade da figura materna e isto tem um resultado extremamente importante: o indivíduo se preocupa com os resultados de sua experiência pulsional básica e ideacional”. Nesta etapa, surge a capacidade de sentir culpa e os desejos de reconstruir e reparar. No terceiro estágio, o da Personalidade Total, há a capacidade de desenvolver múltiplas relações interpessoais, a partir dos conflitos triangulares. Nesse estágio, o amor e a agressividade se apresentam fundidos. Enquanto Winnicott enfatizou mais a preocupação , M. Klein pôs maior na culpa, em relação à posição depressiva.
Winnicott, como Freud e outros psicanalistas, deu importância à fusão do amor e do ódio como forma da agressividade ficar controlada (e subordinada) ao amor. Ele também escreveu a propósito do sadismo que o indivíduo só se sente real quando é destrutivo e cruel. (1)
Ele acrescentou que uma boa parte da confusão existente neste terreno é devido ao fato de que freqüentemente usamos o termo agressão quando queremos dizer espontaneidade. “O gesto impulsivo se estende para fora e se torna agressivo, quando é atingida a oposição. Minha sugestão é a seguinte: é esta impulsividade, e a agressão que se desenvolve a partir dela, que faz com que o bebê necessite de um objeto externo, e não apenas de um objeto que o satisfaça”
Júlio de Mello Filho chamou a atenção para a similitude destas visões de Winnicott com as concepções de Freud sobre a agressividade contida em sua primeira tópica e, portanto, antes de sua visão final da oposição entre pulsão de vida e pulsão de morte.(2)
Com efeito, Freud escreveu em Três ensaios sobre a Sexualidade que;
“A crueldade em geral aparece facilmente na natureza infantil, já que o obstáculo que detém o instinto de domínio diante da dor de outra pessoa, ou seja, a capacidade para a piedade, se desenvolver regularmente tarde (...). Pode-se presumir que o impulso da crueldade surge do instinto de domínio e aparece num período de vida sexual em que os órgãos genitais ainda não assumiram ser papel ulterior”. Nesta mesma linha de pensamentos Freud escreveu neste mesmo trabalho sobre “Atividade muscular” que. “Estamos todos familiarizados com o fato de que as crianças sentem a necessidade de grande dose de exercício muscular ativo e tiram extraordinário prazer da satisfação desta necessidade (...). Uma das raízes do instinto sádico pareceria residir na incentivação da excitação sexual pela atividade muscular.” Em “Os Instintos e suas Vicissitudes” ele também escreveu que. “O ódio, enquanto relação com objeto é mais antigo que o amor. Provém do repúdio primordial do ego narcisista ao mundo externo com seu extravasamento de estímulos. (3) A história das origens do amor nos permite compreender por que é que o amor com tanta freqüência se manifesta como ambivalente – isto é, acompanhado de impulso de ódio contra o mesmo objeto”. (4)

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