segunda-feira, 27 de abril de 2009

O MAL ESTAR NA CONTEMPORANEIDADE



Um Breve comentário.


“Deus está morto. Marx está Morto. E eu, para falar a verdade, não me sinto muito bem"
(Woddy Allen)




Falemos um pouco então, daquilo que talvez, seja o mote central do contemporâneo: O Mal Estar.

O Mal Estar e o Mundo Contemporâneo.

Há um lugar para conceber que as pedras falam e que há a possibilidade de se entender o idioma inconversável delas . Mas para tanto há de ter poesis, há de ter criação. Freud quando apresenta as descobertas possibilitadas pelo emprego do método psicanalítico na observação e escuta dos sintomas histéricos, afirmou: "As Pedras Falam" . O produto da atividade neurótica, símbolos mnêmicos das atividades infantis recalcadas, são potencializados pôr uma linguagem que então, traduzida e decifrada, informa sobre experiências e acontecimentos do passado que testemunham sobre a origem da doença. A experiência psicanalítica que se funda no método da interpretação, que elucida os sentidos mais ocultos dos sintomas, configura-se como a "cura pela fala" que nos remete a pensar que tudo o que pensamos. Falamos e ao falar utilizamos uma linguagem que é composta de palavras, pois a “escrita é sempre a escrita de uma fala” [SAFOUAN]; o inconsciente se estrutura como uma linguagem solicitando como uma condição operacional, a inscrição de eventos no inconsciente, melhor dizendo, no registro das representações.

“Aonde não há poesis, pedras passam por pedras mesmo. O terreno, por conseguinte não é propicio à descoberta de objetos marcados por inscrições codificadas" (Lowenkron )

Dentro desta perspectiva, o terreno não seria propicio à descoberta de objetos marcados por inscrições e passíveis de tradução. Na verdade, a psicanálise, desde sempre facultou esta possibilidade, testemunhada na formação das "neuroses atuais". Falemos, então, de estados neuróticos desprovidos de atividade criadora, impossibilitados de realizar a passagem da intensidade pulsional para o registro da interpretação. Esclarecendo, das dificuldades encontradas pelo sujeito para a simbolização, melhor dizendo, para efetuar o processo de simbolização, surgem os sintomas que, supostamente, não são portadores de sentido. Seriam sintomas que não falam, mas explicitam perturbações de economia sexual somática. Tal economia exerceria um conhecimento não pensado, não inscrito no registro da representação. Neste processo, ocorrem manifestações que são sentidas, percebidas como um Mal-Estar que não encontra definição que, muitas vezes não se localiza. Um Mal Estar Indizível. Essas categorias clínicas demarcam fortes limites ã clínica psicanalítica, tal como se apresenta e se pensa fundamentalmente na clínica baseada do recalque.

As questões seriam: sobre quais diferenças estamos falando, quando e por que elas acontecem? Bion diz que talvez encontremos mais "Hamlets" do que "Édipos". Roudinesco afirma que "Os pacientes dos anos 90 são muito diferentes daqueles dos primeiros tempos" e continua a autora, que cada um de nós não cessa de confirmar na própria experiência.


Penso que as questões colocadas até agora, não são nenhuma novidade para quem nos ouve, neste momento, muito antes pelo contrário, também refletem e sentem o mal estar com o qual se deparam quotidianamente. Com tais questões e, concordam os psicanalistas, sejam quais forem suas premissas ou tradições de pensamento psicanalítico que, existem mudanças importantes na economia psíquica do homem contemporâneo.

Falando de sofrimento psíquico na atualidade, destacam-se os chamados transtornos depressivos, que se caracterizam por sentimento de um vazio interior, redução de auto-estima, falta de identidade, empobrecimento da experiência subjetiva e criativa, somatizações graves, as toxicomanias e os modos perversos de existência.


“As pessoas que vêm consultar-nos, começam geralmente por relatar uma depressão, maior ou menor, uma dificuldade de viver, uma incapacidade para fazer as coisas mais simples. Nas entrevistas, por vezes reconhecemos o que classicamente conota a depressão: abatimento, inibição do pensamento, sentimento de vazio, cansaço, apatia, impossibilidade de amar, impotência ou frigidez, sentimento de inferioridade, de inadaptação ou ausência de valor" CHEMAMA,R

Não se pretende, aqui, uma revisão teórica, mas sim, evidenciar uma coalizão de pensamentos psicanalíticos acerca do sofrimento psíquico que se apresenta no mundo contemporâneo, os desafios da clínica psicanalítica que, por sua vez tem seu setting redimensionado por sofrimentos e sujeitos que se manifestam sob a forma de sintomas narcísicos, depressivos, com dificuldade de articular narrativas, suas próprias histórias, suas experiências, amores e dores.
Além da marca deste discurso há uma solicitação imediata da remissão deste quadro, o alívio rápido, e a dificuldade de aceitar um trabalho sistemático e regular que a psicanálise solicita.

ROUDINESCO afirma que a depressão deveria ser pensada muito mais como um avatar do que propriamente como uma entidade autônoma. ROUDINESCO enfatiza que a histeria, evidentemente não desapareceu, no entanto ela está sendo cada vez mais tratada e vivida como uma depressão. O modo depressivo então, de sofrimento guarda conformidade com o que se chama de sociedade depressiva, na qual então, se instaura, e o paradigma da histeria é "substituído pelo da depressão" .

No entanto a categoria denominada como depressão (cabendo distingui-la da melancolia) atualmente ampara-se fortemente no discurso psiquiátrico e seus ideais fálicos, já evidenciados por MICHEL FOUCAULT em sua obra “A Micro-Física do Poder" que, por sua vez trabalha com um método empírico experimental, produzindo, conseqüentemente um campo fecundo de pesquisa para psicofarmacologia, para neurociências e outras disciplinas que operam num contexto de pensamento notoriamente não-neutro, tratando os transtornos depressivos como anomalias, mal funcionamento cerebral, cujo o comportamento possa vir a ser corrigido por meio de medicamentos, tornando dispensável a busca de sentido para os sintomas.

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