segunda-feira, 27 de abril de 2009

A ALMA SERIA UMA COISA?




Nesta situação, neste contexto histórico social, não surpreende que a psicanálise seja paulatinamente violentada pelo discurso tecnicista alegando sua ineficácia. Ineficácia?
Fraçoise Giroud declarou “A análise é árdua e faz sofrer. Mas quando a imagem que se tem de sim mesmo se está desmoronando sob o peso das palavras recalcadas, das condutas obrigatórias, das aparências a serem salvas, quando a imagem que se tem de si mesmo torna-se insuportável, o remédio é esse, guardo por Lacan uma gratidão infinita(..) não mais sentir vergonha de si mesmo é a realização de liberdade.Isso é o que uma psicanálise bem sucedida ou bem conduzida ensina aos que lhe pedem socorro”.
Mas, por que a psicanálise suscitaria tanto opróbrio?
A Psicanálise parece ser ainda mais atacada hoje em dia por haver conquistado o mundo através da singularidade de uma experiência subjetiva que coloca o inconsciente, a morte e a sexualidade no cerne da alma humana.
Acredito que a significação deste equivocado descrédito deva ser buscada na recente transformação dos modelos de pensamentos desenvolvidos pela psiquiatria dinâmica, nos quais repousa, há dois séculos, a apreensão do status da loucura e das doenças psíquicas nas sociedades ocidentais.
Esclarecendo, chama-se psiquiatria dinâmica os conjunto das correntes e escolas que associam uma descrição de doenças da alma (loucura) dos nervos (neurose) e do humor (melancolia) a uma tratamento psíquico de natureza dinâmica, melhor dizendo, que faça intervir uma relação transferencial entre o médico e o doente. Oriunda da medicina,a psiquiatria dinâmica privilegia a psicogênese (causalidade psíquica) em relação a organogênese (causalidade orgânica), mas no entanto sem excluir esta última, apoiando-se em quatro grande modelos de explicação da psique humana: um modelo nosográfico nascido da psiquiatria, que permite ao mesmo tempo uma classificação universal das doenças e uma classificação universal das doenças e uma definição da clínica em termos de norma e patologia um modelo terapêutico herdado dos antigos curandeiros que presume a eficácia terapêutica a um poder de sugestão.
No entanto, diante do impulso da psicofarmacologia, a psiquiatria abandonou o modelo nosográfico em prol de uma classificação de comportamentos. Reduziu a psicoterapia a uma técnica de supressão de sintomas. Percebemos então a valorização empírica e ateórica dos tratamentos de emergência. O medicamento sempre atende, seja qual for a duração da receita, a uma situação de crise, a um estado sintomático. Quer se trate de angústia, agitação, melancolia ou uma simples ansiedade. É preciso, inicialmente tratar o traço invisível de sua doença para depois suprimi-la. As modalidades medicamentosas utilizadas como única terapêutica e pelo discurso fálico das “receitas” orientam o paciente para uma posição ainda mais conflituosa e consequentemente depressiva. Em lugar das paixões, a normopatia; em lugar do desejo, ausência; em lugar do sujeito, o nada, em lugar da história, o fim da história. “ O moderno profissional de saúde – psicólogo, enfermeiro psiquiatra ou médico já não tem tempo para se ocupar da longa duração do psiquismo, por que na sociedade liberal depressiva seu tempo é contado”

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