terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tendência Antissocial




A TENDÊNCIA ANTI-SOCIAL

Numa conferência proferida em 1956 para a Sociedade Britânica de Psicanálise, Winnicott escreveu;

“A tendência anti-social cria para a psicanálise alguns problemas espinhosos, problemas de natureza prática e teórica. Freud, através de sua introdução ao livro de Aichohorn, Wayward Youth, mostrou que a psicanálise não só contribui para a compreensão de delinqüência como é enriquecida por uma compreensão do trabalho daqueles que lidam com delinqüentes (...). Decidi discutir não a delinqüência, mas a tendência anti-social. A razão é que a defesa anti-social organizada está sobrecarregada de ganho secundário e reações sociais que tornam difícil ao investigador atingir seu amargo. Em contrapartida, a tendência anti-social pode ser estudada tal como se apresenta na criança normal ou quase normal, onde se relaciona com dificuldades inerentes ao desenvolvimento emocional.”
Apesar desta relação apontada por Freud, os distúrbios de caráter e a delinqüência não têm, a meu ver, por razões várias, recebendo da psicanálise toda a carga de conhecimento e de pesquisas que poderiam ser levantadas por este portentoso problema que preocupa hoje em dia a humanidade inteira. Assim sendo, os trabalhos de Winnicott a este respeito, embora escritos nas décadas de 40, 50 e 60, ainda conservam todo um frescor, oportunidade e sentido para os dias atuais. Continua ele;

“A tendência anti-social não é um diagnóstico. Não se compara diretamente com outros termos diagnósticos como neurose e psicose. A tendência anti-social pode ser encontrada num individuo normal ou num individuo neurótico ou psicótico.”

Para ele a tendência anti-social está sempre relacionada a uma privação importante no passado do individuo, muito embora essa privação – representada, por exemplo, pelo nascimento de um irmão ou por um episódio depressivo na vida da mãe – possa passar despercebida pelo meio ambiente. Em suas palavras;
“Uma criança sofre privação quando passam a faltar características essenciais da vida familiar. Torna-se manifesto um certo grau de privação.
O comportamento anti-social será manifesto no lar ou numa esfera mais ampla. Em virtude da tendência anti-social, a criança poderá finalmente ter que ser considerada desajustada e receber tratamento num alojamento para crianças desajustadas, ou pode ser levada aos tribunais como criança incontrolável. Agora, delinqüente a criança pode tornar-se um individuo em liberdade condicional, sob mandado judicial ou ser enviada para um reformatório (...) Caso todas essas medidas fracassem, o jovem adulto será considerado um psicopata e remetido pelos tribunais para um instituto correcional para jovens delinqüentes ou para uma prisão.”
Noutro trecho, continua Winnicott;
“Existe uma relação direta entre a tendência anti-social e a privação (...) Deve-se a John Bowlby o fato de haver hoje um relacionamento generalizado das relações entre a tendência anti-social e a privação emocional, tipicamente no período que vai até a idade em que a criança começa a dar os primeiros passos, entre um e dois anos de idade (...) Quando existe uma tendência anti-social, houve um verdadeiro desapossamento (não uma simples carência); quer dizer, houve perda de algo bom que foi positivo na experiência da criança até uma certa data e que foi retirado; a retirada estendeu-se por período maior do que aquele em que a criança pode manter viva a lembrança da experiência.”
Numa das suas visões clínicas mais simples e integradoras sobre este problema ele adverte que;
“Existem sempre duas direções da tendência anti-social, embora às vezes uma seja mais acentuada do que a outra. Uma direção é representada tipicamente pelo roubo e a outra pela destrutividade. Numa direção a criança procura alguma coisa, em algum lugar, quando tem esperança. Na outra a criança está procurando aquele montante de estabilidade ambiental que suporte a tensão resultante do comportamento impulsivo. É a busca de um suprimento ambiental que se perdeu , uma atitude humana, que uma vez que se possa confiar nela , dê a liberdade ao indivíduo de se movimentar, agir e excitar. É sobretudo por causa da segunda tendência que a criança provoca tendências ambientais totais, como buscando moldura cada vez mais ampla , um círculo que teve como seu primeiro exemplo os braços da mãe ou o corpo da mãe. È possível discernir uma série : o corpo da mãe , os braços da mãe, a relação parental, o lar, a família, a escola, o país com suas leis”
Sobre o Roubo ele escreve:
“O furto está no centro da tendência anti-social, associado a mentira. A criança que furta um objeto não está desejando o objeto furtado, mas a mãe sobre quem ela tem direitos. Será possível unir as duas tendências, o furto a destruição, a busca do objeto e aquilo que a provoca, as compulsões libidinosas e agressivas? Na minha opinião, união das duas tendências está na criança e representa uma tendência para uma autocura, cura de uma dissociação de instintos. Quando há na época, na privação original, alguma razão de fusão de raízes agressivas(ou motilidade) com raízes libidinais, a criança reclama a mãe por uma combinação de furto, agressividade e sujeira, de acordo com detalhes específicos do estado de desenvolvimento emocional dessa criança. Quando existe menos fusão, a busca do objeto e agressão estão mais separadas uma da outra e há uma maior grau de dissociação da criança. Isso leva à proposição de que o valor de incômodo da criança anti-social é uma característica essencial, e também é, sob o aspecto positivo, uma característica favorável, que indica uma potencialidade de recuperação da fusão perdida dos impulsos libidinais e motilidade”
Sobre o valor do incômodo do bebê em relação à mãe, Winnicott está referindo a “amolação” que uma criança impõe à mãe através de uma enurese noturna ou as expensas de um comportamento de bagunça, de um dirigir-se constantemente à mãe para incomodá-la e para receber uma resposta qualquer desta. Por este motivo para ele qualquer exagero do valor do incômodo de um bebê pode indicar a existência de certo grau de privação anti-social. A manifestação da tendência anti-social inclui roubo, mentira, incontinência e modo geral, uma conduta desordenada, caótica. A partir deste estudo da tendência anti-social há sempre uma esperança. Enquanto existe um comportamento anti-social de provocação há esperança da criança de que o meio se recupere e lhe forneça a provisão ambiental que lhe é devida. Entretanto num bom número de casos, ou o ambiente não reconhece a privação e a falta e não se corrige, ou quando o faz, a criança a esta tentativa de cura ou de alguma. Este é um dos aspectos mais intrigantes e frustradores “do tratamento analítico destes pacientes eles reivindicam, de várias formas, um tipo de ajuda e quando lhe és oferecido e uma oportunidade de recuperação” (Mello 1989)
Winnicott sublinha o tempo todo que a terapia da privação original e da tendência anti-social em privação original e da tendência anti-social em estruturação é realizada pela própria mãe e pela família como um todo, ou numa instituição especializada. Neste casos na segunda intenção poderíamos acrescentar sobre a perda original Winnicott acrescentou que a perda original que há um ponto especial de deve-se sublinhar. Na base da tendência anti-social está uma boa experiência emocional que se perdeu. Sem dúvida é uma característica essencial que o bebê tenha atingido a capacidade que a causa do desastre reside numa falha ou omissão ambiental. O Estado de maturidade do Ego, possibilitando uma percepção desse tipo, determina o desenvolvimento de uam doença anti-social, em vez de uma doença psicótica.

Um comentário:

  1. Gostei muito do seu blog, sou psicologa e partilhamos do mesmo sobrenome, meu nome é Veronika Ulrich. Será que somos parentes distantes? Att

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